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A construção de ciclovias feitas com base em celulose recuperada no tratamentos de esgotos, na Holanda, deu um novo patamar à recuperação de subprodutos a partir das ETEs.
O debate sobre sustentabilidade em Estações de Tratamento de Esgoto normalmente envolve a recuperação desses subprodutos. Contudo, geralmente se aprofunda na recuperação de nitrogênio, fósforo e enxofre que podem ser utilizados para outros fins, como a fertilização e recuperação de solos. A extração da celulose, pura e de qualidade, demonstra o potencial do tratamento do esgoto enquanto fonte de recursos e matérias primas que podem beneficiar a sociedade e o meio ambiente.
A ciclovia, criada na cidade de Leeuwarden, utiliza a celulose misturada à massa asfáltica, resulta em uma diminuição no consumo de matéria prima e melhoria na absorção de água no asfalto. “Quando as estradas ficam molhadas, elas ficam escorregadias, então usamos esse asfalto porque ele tira a água da superfície da estrada mais rapidamente”, disse Ernst Worrell, professor de energia, recursos e mudanças tecnológicas na Universidade de Utrecht.
A ciclovia usa o que é chamado de celulose terciária, extraída de fluxos de resíduos, diz Erik Pijlman, diretor da KNN Cellulose, um dos parceiros
do projeto. “Retiramos a celulose desses fluxos e transformamos em matéria-prima”, disse ele em entrevista ao site CityLab.
Para fazer isso, as fibras de papel são retiradas das águas residuárias por uma peneira industrial de 0,35 milímetros antes de passar por uma série de equipamentos pra serem limpas, esterilizadas, branqueadas e secas. O resultado é um material fofo e acinzentado. “Se você olhar para ele, não esperaria que ele se originasse de águas residuárias”, diz Chris Reijken, consultor de tratamento de águas residuárias da Waternet, uma das 22 autoridades de água na Holanda, e parte do grupo de trabalho que supervisiona o projeto. “Você pode tocá-lo, você pode usá-lo, não há problema.”
POTENCIAL
Em junho de 2017 foi inaugurada a primeira unidade mundial para produção de celulose, na cidade de Warmenhuizen, cujo objetivo também é desenvolver tecnologia e extrair celulose do esgoto. A unidade está instalada na Estação de Tratamento de Geestmerambacht (WwTP Geestmerambacht), é vinculada à iniciativa privada e desenvolve pesquisas com o apoio da União Europeia, através do Horizon2020 project SMART-Plant.
Segundo a empresa que faz a gestão dessa unidade, a celulose é extraída, purificada e tratada na estação. A capacidade de produção da unidade é de 400kg de celulose pura por dia. Parte desse material é utilizado na própria Holanda, em projetos como o da ciclovia, e parte é exportada, em especial para a Inglaterra, “onde é usada como matéria-prima para produzir bio-compósitos”, informou a empresa.
A justificativa para que a Holanda desenvolva tantos projetos é a quantidade de papel higiênico e toalhas de papel presente nos ESGOTOS do país. Em pesquisa publicada em 2013 (Ruiken), foi apresentada uma estimativa de que cada pessoa em países como Holanda e Alemanha descartem cerca de 1 kg de papel higiênico por mês.
Todo esse papel faz o seu caminho para as estações de tratamento de águas residuárias, onde é filtrado com o resto dos sólidos. O lodo resultante é seco e incinerado. Além de produzir grandes quantidades de CO2, o processo de incineração destrói muitos recursos valiosos encontrados nos esgotos, um dos quais é a celulose. A extração e reutilização é um avanço que pode ser desenvolvido em outros países e mostra a importância de conhecermos o perfil de geração e a composição dos esgotos para identificarmos o potencial de recuperação de subprodutos a partir dos esgotos no Brasil.
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