É bastante comum associar esgoto e mau cheiro. Afinal de contas as fezes, urina e demais componentes do esgoto apresentam um odor característico nada agradável. Podemos então imaginar que todas as estações de tratamento de esgoto são lugares com cheiro horrível, mas será que isso é verdade? É o que vamos descobrir a seguir! Continue a leitura.

Causas do mau odor

Diversos gases gerados a partir do esgoto são responsáveis por nossa percepção dos maus odores, dentre eles: sulfeto de hidrogênio (H2S), mercaptanas, ácidos orgânicos voláteis, aldeídos, álcoois, fenóis, amônia e aminas. Quando esses gases são liberados para a atmosfera sem nenhum controle e de maneira difusa, são chamados de emissões fugitivas. caixa de distribuição de afluente para controle de oderes

Essas emissões podem ocorrer em diversas etapas do tratamento, desde o tratamento preliminar, nas estações elevatórias e até mesmo em reatores com problemas de vedação. Quando essas emissões são confinadas, gerando uma corrente gasosa por meio de exaustão, esse fluxo passa a ser chamado de gás residual.  Um exemplo é a cobertura e exaustão dos gases das estações elevatórias e das etapas do tratamento preliminar.

Cabe ressaltar que o mau odor não é o único problema gerado pelas emissões fugitivas desses gases.  Alguns desses gases, dentre eles o sulfeto de hidrogênio, podem ocasionar processos corrosivos nas estruturas dos reatores e tubulações e gerar condições de insalubridade para os trabalhadores. Além disso, também podem ser gases causadores do efeito estufa – GEEs, como é o caso do metano (CH4) e óxido nitroso (N2O).

Além de incomodar por causa do cheiro, será que esses gases podem gerar outros problemas? Continue a leitura e entenda quais são os efeitos do gás sulfídrico para nossa saúde.

 

Sulfeto de hidrogênio (H2S), o grande vilão? 

No tratamento de esgoto, o sulfeto de hidrogênio é gerado a partir da digestão anaeróbia de compostos de enxofre.     Se trata de um gás tóxico, e o principal responsável pelo mau odor (cheiro de ovo podre). Existem estudos que mostram que nosso olfato é capaz de detectar o H2S em concentrações extremamente baixas, a partir de 8 ppb (partes por bilhão)! 

Os efeitos do H2S sobre a saúde humana variam de acordo com a concentração que somos expostos. Em baixas concentrações (10 ppm – partes por milhão), podemos começar sentindo irritação ocular e até mesmo perda momentânea de consciência, quando a exposição dura muito tempo. Em concentrações maiores, entre 100-200 ppm, podemos avançar para quadros mais graves como edema pulmonar e convulsão. Por fim, concentrações mais altas (>900 ppm) podem levar a morte. No Brasil, os limites de exposição ao H2S são determinados pela NR 15 do Ministério do Trabalho (atualmente uma secretaria do Ministério da Economia). corrosão de tubulação de tratamento de esgoto por causas que causam maus odores

O H2S também é responsável pela corrosão de componentes do sistema de tratamento. Na presença de umidade e pequenas quantidade de oxigênio, o H2S pode ser oxidado a ácido sulfúrico, que devido às suas propriedades corrosivas, pode causar a depreciação de peças e estruturas metálicas ou de concreto. Como podemos lidar com estes problemas no tratamento de esgoto? É o que veremos a seguir! Siga a leitura.

 

Controle de emissões gasosas e corrosão 

Uma vez emitido, os gases odorantes (emissões gasosas que causam mau cheiro) se dispersam na atmosfera, sob influência das condições meteorológicas, topografia, e uso e ocupação do solo da região. Dependendo de sua concentração na atmosfera e tempo de exposição, pode causar incômodos à vizinhança próxima às estações de tratamento de esgoto (ETE) e, por consequência, reclamações. Assim, o controle de emissões gasosas objetivando a redução dos impactos sobre o meio ambiente e as comunidades vizinhas às ETEs é de fundamental importância, uma vez que as emissões de gases odorantes acarretam em um impacto real sobre as pessoas e o seu bem-estar.

O controle de emissões gasosas, e também de corrosão, deve priorizar ações preventivas que minimizem as emissões fugitivas, mas também podem ser requeridas medidas corretivas que envolvam contenção e exaustão dos gases residuais para o seu tratamento. 

Como medidas preventivas na concepção e projeto de ETEs, é importante atentarmos para o escoamento em regime turbulento, devendo-se optar por entradas submersas ao invés de quedas hidráulicas, além de prevenir a deposição de sólidos e do estabelecimento de zonas mortas nos reatores. Uma outra alternativa seria aproveitar esse regime turbulento para desprendimento desses gases em um ambiente confinado, de onde os gases podem ser exauridos e tratados.

Alguns cuidados no projeto (p. ex.: regime hidráulico de escoamento do esgoto, dispositivos para remoção de escuma, reatores UASB estanques a gases, materiais e estruturas resistentes à corrosão), e na operação das ETEs por processos anaeróbios (p. ex.: remoção de escuma, gerenciamento adequado do lodo) podem minimizar ou até mesmo sanar muitos problemas relacionados às emissões fugitivas.biofiltro em estação de esgoto

Quanto às medidas corretivas, elas se baseiam na contenção e exaustão dos gases, no desprendimento de gases dissolvidos no efluente de reatores UASB e no tratamento dos gases residuais. Sua aplicação pode ser complementar a medidas preventivas já adotadas como também, nos piores casos, para correção de projetos que não previam tais medidas. Além dessas medidas, o uso de materiais resistentes à corrosão (p. ex: tubos e conexões fabricados em aço inoxidável ou em plástico adequado) e de revestimentos anticorrosivos são necessários para manter a integridade das estruturas.

Para o tratamento dos gases residuais gerados nas zonas confinadas, a biofiltração apresenta-se como a técnica mais adequada se considerados os aspectos econômicos e de eficiência de tratamento. O processo da biofiltração consiste na passagem do gás residual através de um meio suporte, no qual microrganismos ficam aderidos na forma de um biofilme. Esses microrganismos são responsáveis pela oxidação biológica dos poluentes presentes no gás residual a substâncias menos prejudiciais.

Outras dicas e informações mais detalhadas sobre o controle de odores e corrosão podem ser encontrados em materiais técnicos e científicos publicados pelo INCT ETEs Sustentáveis, como a Nota Técnica sobre controle de corrosão e emissões gasosas, presente na coletânea publicada na revista DAE, além do artigo científico publicado na Revista Engenharia Sanitária e Ambiental.

É importante ressaltar que o cheiro desagradável nas ETEs é coisa do passado. Existem boas técnicas de concepção e projeto e tecnologias de baixo custo e alta eficiência já difundidas, que permitem o controle adequado de odores no tratamento de esgoto. O Emanuel Brandt irá falar mais sobre esse tema conosco em um vídeo na próxima segunda-feira, às 19h, no nosso YouTube, IGTV e no Facebook. Siga nossas redes sociais e fique por dentro!