Levantamento feito pelo IBGE mostra que doenças diretamente relacionadas à falta de saneamento ainda são importantes causas de epidemias e endemias no país, representando um custo econômico e social elevado para o país. O grande número de casos de diarreias e poliverminoses, além dos casos de cólera e hepatite A, são os que mais chamam atenção por estarem diretamente vinculados à falta de coleta e tratamento adequado de esgoto.
O estudo considera “saneamento básico” em seu aspecto amplo, envolvendo abastecimento de água, tratamento de esgoto, manejo de resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais. Assim, o IBGE selecionou como indicadores algumas doenças específicas que de alguma forma estão relacionadas com a falta de saneamento. Foram encontrados os seguintes dados: considerando todos os municípios do Brasil, 26,9% tiveram epidemias ou têm endemia de dengue; 17,2% de chikungunya; 17,2% de poliverminoses; 14,6% de zica; doenças respiratórias em 11,7% dos municípios; hepatites em 7,7%; dermatites também em 7,7%; leptospirose em 4,5%; malária em 3,2%; febre amarela em 2,9%; difteria em 2,9%; cólera em 1,7% e tifo em 1%.
Chama a atenção que 34% dos municípios brasileiros afirmaram ao IBGE que tiveram registro de todas as doenças, seja a existência endêmica ou epidêmica.
O estudo destaca, especialmente, os casos de dengue, chikungunya e zica, doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, que se reproduz em água parada e, portanto, relacionado com a falta de saneamento adequado. Segundo o IBGE, “a oferta irregular de água, por exemplo, resulta em que as pessoas tenham que estocá-la em reservatórios, os quais, muitas vezes, servem de local de reprodução dos mosquitos. O acúmulo de lixo nos domicílios e nas ruas, decorrente da coleta irregular, e a falta de drenagem adequada favorecem, por sua vez, o acúmulo das águas das chuvas, sendo outro fator de risco”.
Diarreias e verminoses foram duas das doenças citadas com maior frequência pelos municípios. Suas causas são diversas e, normalmente, associadas à ingestão de ou contato com água e alimentos contaminados. No caso das diarreias, costuma ser sintoma de outras doenças e geralmente estão “fortemente vinculadas às condições de saneamento básico”, de acordo com o IBGE.
Nesse caso também cabe incluir a cólera, doença que tem incidência incomum em países com maior grau de desenvolvimento, mas que persiste no Brasil em virtude das baixas condições de saneamento. Vale salientar que a cólera esteve presente na Inglaterra nos idos de 1850 e lá, desde àquela época, estabeleceu-se o caminho epidemiológico da doença ligando o seu surgimento à presença do agente vibrio cholerae na água contaminada.
Outro caso grave de doença relacionada à falta de saneamento é a esquistossomose; uma grave doença feco-oral que contamina o ser humano através da pele e das mucosas em contato com água contaminada. A esquitossomose atinge o fígado e nem sempre é perceptível em sua fase inicial. Suas consequências são graves, podendo levar ao comprometimento permanente da saúde dos doentes ou até ao óbito, em casos mais graves. De acordo com dados do ministério da Saúde, entre os anos 2000 e 2016, foram mais de 1 milhão de casos de esquitossomose no país; 76 mil casos apenas no ano de 2016.
Apesar desses indicadores ainda serem preocupantes há uma evolução positiva no quadro do saneamento no Brasil, particularmente a partir dos anos 2000, quando houve a definição de um marco regulatório e aporte de recursos financeiros vultosos. Uma questão, contudo, traz preocupação a todos os sanitaristas: o contingenciamento de recursos do orçamento da união para ações de saúde, aí incluídas às de saneamento. A persistência de doenças vinculadas ao saneamento básico, o grande número de casos e o custo implicado ao sistema de saúde pública servem como alerta aos governantes e sociedade para manutenção do investimento em saneamento no país.